segunda-feira, 6 de julho de 2009


Por duas vezes o beija-flor entrou aqui no meu trabalho, (minha casa) , e não sei o que significa este vôo desesperado, em busca da luz, em pleno fim de tarde. Os mistérios da vida impulsionou-me a pesquisar o que significa tudo isso. Talves não seja nada, talves seja um mensageiro, talvés seja apenas um pássaro... e o texto que encontrei mais próximo do que busquei compreender, foi este abaixo. Bonito não é!
O BEIJA-FLOR
O Brasil, não sem razão, é chamado de paraíso das Aves. Abriga em torno de 1700 espécies, ao qual corresponde a quase sexta parte de todas as do globo. Nenhuma parte do mundo, nenhum outro país apresenta números iguais a estes. Pode-se supor, portanto, que ocupam lugar importante nas idéias e fantasias da população e entram com um contingente apreciável e adequado nos mitos, superstições e lendas do povo.
A Ave impressiona pelas cores vivas que apresenta. Um ser a que nada é inatingível, Senhor dos Ares, que participa da rapidez do pensamento dos poetas, reveste-se também de caráter extraordinário e religioso aos olhos mortais dos homens plantados à terra. Não nos admira que na antiguidade se venerassem as aves como mensageiros dos deuses que lhes anunciavam a vontade destes. Neste caso, o vôo dos pássaros predispunha-os, então a encarnarem as relações entre o céu e a terra.
Mas, os pássaros simbolizam ainda, os estados espirituais: os anjos, os seres superiores do ser e do pensamento. Os pássaros azuis da literatura chinesa dos Hã, por exemplo, são fadas imortais, mensageiras celestes.
Uma das aves mais lindas, é sem dúvida, o rutilante Beija-flor, conhecido também sob o nome de colibri. A família dos Beija-flores é muito numerosa, conhece-se hoje cerca de 330 espécies espalhadas pelos três continentes americanos. O Brasil possui cerca de 150 espécies.
Entre todos seres vivos, é o beija-flor o mais belo quanto a forma e o mais esplendido quanto a sua coloração. A cor de todas as pedras preciosas acham-se aqui representadas, assim como incandescentes, refulgentes, cintilantes, brilhantes são expressões usadas para descrever esta obra prima da natureza. Leveza, ligeireza, agilidade, graça e rico ornamento, de tudo foi dotado este pequeno pássaro. A esmeralda, o rubi, o topázio cintilam em sua roupagem, que ele nunca suja com o pó da terra, porque durante toda a sua vida etérea , dificilmente toca o chão, permanecendo de flor em flor, e através de delicados beijos retira o néctar que o alimenta. Também, parecem acompanhar o Sol, avançando e retirando-se no doce bailado de uma eterna primavera.
Quem não pára para admirar, ao perceber uma dessas amáveis criaturinhas quando rapidamente voa, zumbindo os ares e segurando-se no espaço como por encanto, ou quando adeja de flor em flor, brilhando como se fosse um fragmento do arco-íris?
Aqui no Rio Grande do Sul há entre outras, uma espécie de um modesto verde pardacento escuro pelo dorso e bico vermelho-alaranjado, chama atenção por sua voz que lembra o estalo de um beijo.
Os vôos febris dos beija-flores são tão rápidos que aparece e desaparece num instante sem se saber de onde veio e para onde foi. Os guaranis deram-lhes o nome significativo de "guainumbi"que se pode derivar de "guai" e "aibi", que passa de súbito, ou de: "guira" e "mimbig", pássaro cintilante. Seus movimentos são dois, embora diversos, ambos exclusivamente próprios deste originalíssimo volátil: um é como o esfuziar de uma bala, o outro é pairar no ar, no mesmo lugar agitando com tanta velocidade as asa parecendo que uma nuvem envolve seu pequeno corpo. Este movimento, produz a impressão do mágico e explica as denominações e correlações que lhes feitas, equiparando-os à fadas e gnomos.

Há uma lenda que diz que o beija-flor era originalmente uma borboleta, que pouco a pouco foi vestindo-se de penas, a princípio negras, depois cinzentas e logo rosadas e finalmente douradas tão resplandecentes que no sol parecem um conjunto de todas as tintas. Desta lenda decorre também que a idéia da teoria de descendência não é nova.
O Beija-flor, ou Colibri representou um papel importante no antigo México. Aqui é hora de salientar a dimensão sobrenatural deste pequeno pássaro. Para os astecas, o colibri era, um pássaro psicopompo, já que nesta forma, ou na de borboleta, é que as almas dos guerreiros mortos desciam novamente para a terra. O beija-flor também era considerado o autor do calor do sol.
Huitzilopochtli, o Mago Colibri, o terrível deus da guerra da belicosa nação asteca, traz no seu nome "opochtli" . Era considerado também um deus do fogo, da luz ou do sol, por isso é que o xincoatl, a serpente inflamada do céu, figurava como o "nagual" do deus da guerra e do deus do fogo. O mais curioso é sua relação com o "huitzitzilin", o Beija-flor. Esta relação se esprime antes de tudo pelo nome do deus que significa "opochli" do Beija-flor ou o sinistro do Beija-flor. Opochli, não quer dizer outra coisa que em frente de quem não há meio de se salvar.

Nas pinturas hieroglíficas aparece o deus entre a boca aberta do "uitzitzilin", o Beija-flor.
Mas que tem a ver o terrível deus da guerra dos astecas com a esbelta ave de cores brilhantes que beija as flores? Os arqueólogos cogitam que as cores de brilho metálico dão ao Beija-flor o aspecto de brasa, e de fato, diversas espécies têm o nome de "tle-uitzlin", isto é, Beija-flor de cor de fogo. Não estaria em relação com o elemento do fogo e assim com o deus do fogo?
Também o culto especial, que renderam aos deuses do fogo em certas épocas distintas, se derivou da convicção que a morte da natureza, ao tempo da seca, se deve ao elemento fogo, sendo porém o reino dos deuses do fogo transitório, pois a morte da natureza era seguida de seu renascimento. Ora o próprio Beija-flor na supersticiosa convicção dos mexicanos, era o verdadeiro símbolo da morte e da ressurreição.
"O Beija-flor", diz Sahagum, "renova-se a cada ano. No tempo do inverno pendura-se nas árvores pelo bico e lá pendurado seca e lhe caem a plumagem. Quando as árvores tornam a reverdescer, começam a reviver e renascer suas penas e ao ouvir o trovão antes da chuva então, acorda, voa e ressuscita".
Valde Cebro no seu "Governo das aves", afirma que na entrada do inverno o Beija-flor busca um lugar abrigado e metendo os pés e o bico num orifício da árvore, passa toda a estação dormindo.
No México os Montezumas encarregavam a certos superintendentes que na época do sono dos Beija-flores os deplumassem para tecerem com seus fios de ouro. Até a primavera cresceriam outras plumas e com elas saem para compensar sua hibernada de seis meses.
"O Beja-flor", fala Pe. Duran, "seis meses do ano está morto e nos outros seis está vivo. Quando sente que está chegando o inverno, procura uma árvore frondosa que nunca perde as folhas e com instinto natural acha uma fenda e põe-se em raminho junto aquela fenda e intromete nela o bico quanto pode e está lá seis meses do ano, quanto dura o inverno, sustentando-se só da virtude daquela árvore, como morto. Vindo a primavera, recobrando a árvore nova força e criando folhas novas, o passarinho, ajudado pela virtude da árvore, torna a ressuscitar e sai dali a criar e é por isso que os índios dizem que morre e ressuscita."
Vê-se que esta crença era geral, pois aparece representada entre os Astecas, que acreditavam que seus guerreiros mortos, passados um período de 4 anos (onde acompanhavam o Sol), se transformavam em diversas espécies de aves de rica plumagem e cores brilhantes, que iam aspirar o suco das flores no céu com os "tzintones", isto é, os Beija-flores da terra.
Outro motivo para relacionar o Beija-flor com o deus da guerra, parece achar-se na índole desta ave. Pois, é de se admirar a energia armazenada neste pequeno ser. Todo o dia em constante movimento, sempre inquieto nunca lhe permite repouso prolongado. Com essa acumulação de forças e seu temperamento energético, coube-lhe também um gênio brigão. O encontro de dois machos é motivo de luta, que em certas ocasiões é travada com tanto encarniçamento que no meio da briga rolam pelo chão, ou disparam ao ar como duas faíscas que se levantam rápidas da forja.
A coragem e ousadia de seu ataque e o desprezo da morte com que se atira até sobre aves rapinas, explicam o pensar dos Mexicanos (astecas), que visualizam relações de parentescos entre essa verdadeira flecha de batalha e o deus de guerra: Huitzilopochtli.
É o Beija-flor uma das aves mais graciosas e lindas da avifauna. Tudo na vida destas aves é curioso, sua biologia, seus hábitos, sua desmedida bravura, a singularidade de seu vôo, a arte de construção de seu ninho, entre tantas outras coisas. Todas estas qualidades e virtudes, chamaram a atenção dos indígenas, que para explicá-las criaram muitas e muitas lendas incas, astecas, tupis e guaranis....para o nosso total regozijo.
Texto pesquisado e desenvolvido por
Rosane Volpatto

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