quarta-feira, 1 de setembro de 2010

lembranças e historias

Quando acessei o blog voltei meus pensamentos para a a zona portuária do Rio de Janeiro. Busquei  recordações das palavras, conversas de meu pai sobre o bairro onde morou e onde se casou pela primeira vez. Sempre ouvi mamãe dizer que papai havia se casado aos dezenove anos. Não é verdade. Estes dias achei no meio de seus papei a certidão de casamento dele, em 1939, na Ilha do Governador, quando ele morava na Rua do Propósito e Francelina também. Nós, crianças, ouvimos tantas histórias  quanto aquela de que ele era exímio dançarino do clube dos Fenianos. Guardo o bolso bordado em cetim até hoje. Mas voltando a certidão de casamento, ela é uma relíquia original, autentica, em traços manuscritos belíssimos como as caligrafias de antigamente.
Meu pensamento viajou.  Curioso que, quando penso no meu pai, eu vejo meu filho mais novo, na sua morenice, sapeca, dançarino.....e por sinal, também coincidentemente casou aos 22 anos, e também foi morar na Rua do Propósito. O casamento durou apenas um mês. A histíra está contada por aqui, em uma destas páginas deste ou do outro blog.
Papai contava sobre o casal de filhos que teve: Mario e Mara. Ambos morreram bebês, um de crupe, outro de desinteria. Seus ossinhos estão no mausoléu da família.
Eu não compreende este meu fascínio pelo passado, pelas histórias dos familiares, muito embora sempre falo de mamãe, deixando meu pai  de lado...não por falta de carinho. Pois então. Papai enviuvou e acho que devo ter em meus guardados, algum documento que mencione a data do falecimento de Francelina. Dizia ele que o vício pelo alcool começou quando perdeu os filhos e depois a mulher.... outros diziam que a profissão de conferente de cargas e descargas do Porto do Rio de Janeiro era dada a bebida, mulheres...não sei. A casa onde vivi, a casa "rosa" de arcos, com São José protegendo de um lado e Nossa Senhora da Conceição do outro, parece que foi projeto de seu ex-sogro. Preciso pesquisar um pouco mais sobre isso. Mas a família dele era do Ceará e muito unida. ele tinha mais dois irmãos e duas irmãs: Maria Alice, Maria Carmélia. Mamãe sempre falou muito bem de vovô e dizia que vovó era mais autoritária, implicante. Vovo faleceu quando eu tinha dois anos, mas lembro perfeitamente dele no seu leito de morte, na casa do bairro do Riachuelo. Vovó faleceu quando eu tinha dezoito anos e ela morava com minha tia, no Lins.Era bonito de se ver a reunião de família, nos dias festivos, no Natal e eu ficara muito orgulhosa de vir com meu pai para o Rio ( Estado da Guanabara) atravessando as barcas , pegando ônibus em mais de duas horas de viagem para visitar vovó. Era lindo ver todos juntos em torno da matriarca da família. Com a sua morte, as visitas eram mais escassas, até porque estavamos mais crescidos, outros problemas surgiram em família com o vício da bebida que embora tenha acabado com o casamento de meus pais, não os afastaram um do outro. Haviam brigas sim, mas um cuidava do outro e mamãe sempre nos dizia que papai sempre lhe fora fiel. O cíume e a doença do alcool realmente quebrou a felicidade em que eu magicamente vivia na ilusão infantil, de um casal feliz e sem problemas.
A luta foi grande. Viviamos em um quase sítio, com galinhas, cabritos, carneiros, porcos, hortas, pomar... mamãe sempre gostou de árvores e plantas e ensinava prazeirosamente para que servia cada plantinha, como camolila, capim limão, erva cidreira, lima da pérsia, erva doce, colonia, guiné , jurubeba, maracurá, urucum, tanjeina, jamelão, algonão , manacá, brinco de princesas, papoulas, coqueiros, margaridas, rosas, jenipapo, para-raio, barba de velho, mexerica, melãozinho, cenourasm alfaces tomates e um sem numero de coisa interessante para nós, e as vezes meio nojento como ter que tomar leite de cabra, sem saber como isto é ótimo. Ah! laranja da terra.pé de acácia, flambloyant, paineira e ipê.... Eu cresci vivendo tudo isto.  Pássaros cantando ao amanhecer, sereno gotejando nas flores e na relva quando caminhava para a escola de manhazinha... , as teinhas de aranha brilhando ao sol junto aos galhos... ahhh...tinha também pé de graviola, de goiaba, de jaca, cajueiro e mangueira (carlotinha).  Este era o mundo de papai e de mamãe. O meu mundo.  E o brilho deste mundo foi caindo, foi se despetalando com o passar dos anos... foi tudo se acabando.... o amor, a família, a alegria inocente de acreditar na felicidade aparente... Muito sofrimento se passou sob os nossos olhos. Eu não sabia.... e depois não compreendia.... eu sinto falta do meu pai.... durante toda a minha adolecencia e rezava para que ele não morrer sem que eu entrasse na faculdade. Depois rezei para que ele me visse formada. Depois para que ele entrasse comigo, na Igreja, no meu casamento. Depois para que ele pudesse ver pelo menos um neto. Eu consegui e sei que ele sentiu este orgulho por mim. Acompanhei o seu sofrimento de morte. Estive ao seu lado nos ultimos três suspiros de partida. Sonhei com uma estrela azul, anunciando sua ida...Tenho carinho pela casa onde construiu seus sonhos. É a casa de meu pai. Tenho carinho por onde passou e por onde viveu a sua família e a sua história. Eu respeito todas as recordações que tenha, sejam elas amargas, tristes, alegre ou emocionantes. E sei que mamãe , do seu jeito, o amou . No fim de sua vida, cuidou dele como se fosse seu filho. Mas hoje, a história, é sua , pai. As lembranças do bairro que voce tanto falava, onde seus pais e irmãos também moraram...Hoje minha filha, sua neta, vive por lá , vivendo e trabalhando na casa que era do Tio, e já amando aquele lugar, no clima de nostalgia. Não sei o que encanta, talvez a muitas historias que conto até mesmo do lindo amor de seu irmão e sua cunhada. Eu adorava o tio, com seu sorriso lindo, sua voz macia e tão parecido com você.  Você não foi uma pessoa má. Superado o vício da bebida, como era bom conversar contigo. E hoje, focando voces pai e mãe, não me cabe jamais julgar seus problemas , suas dificuldades, mas posso dizer que fui muito, muito amada por ambos.Sei que, se sou justa, se sou correta e honesta, devo a educação , a orientação que tive. A viagem de meu pai foi em 87. Confesso que eu me sentia uma criança. Mas eu vi e vivi todo o amor de mamãe por ele, em seus últimos momentos de vida e todo este amor ficou enraizado dentro de mim. Até hoje eu sou uma criança sentindo a falta de seus pais. de suas histórias. Toda uma vida não foi suficiente para conhecer todas as suas histórias  e guardá-las para as gerações futuras.
(Senhora B, para meu pai, Senhora M. em 01/09/2010 'as 23:12:hs)

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